Sama
Viemos girando do nada, espalhando estrelas como pó.
As estrelas puseram-se em círculo e nós ao centro dançamos com elas.
Como a pedra do moinho, em torno de Deus gira a roda do céu.
Segura um raio dessa roda e terás a mão decepada.
Girando e girando essa roda dissolve todo e qualquer apego.
Não estivesse apaixonada, ela mesma gritaria – basta!
Até quando há de seguir esse giro?
Cada átomo gira desnorteado, mendigos circulam entre as mesas, cães rondam um pedaço de carne, o amante gira em torno do seu próprio coração.
Envergonhado ante tanta beleza giro ao redor da minha vergonha.
Vem Ouve a música do sama.
Vem unir-te ao som dos tambores!
Aqui celebramos:
Somos todos a verdade.
Em êxtase estamos.
Embriagados sim, mas de um vinho que não se colhe na videira;
O que quer que pensem de nós em nada parecerá com o que somos.
Giramos e giramos em êxtase.
Esta é a noite do sama
Há luz agora.
– Luz ! Luz!
Eis o amor verdadeiro que diz a mente: adeus.
Este é o dia do adeus.
– Adeus ! Adeus !
Todo coração que arde nesta noite é amigo da música.
Ardendo por teus lábios, meu coração transborda de minha boca.
Silêncio!
És feito de pensamento, afeto e paixão.
O que resta é nada além de carne e ossos.
Por que nos falam de templos de oração, de atos piedosos?
Somos o caçador e a caça, outono e primavera, noite e dia, o visível e o invisível.
Somos o tesouro do espírito.
Somos a alma do mundo, livres do peso que vergasta o corpo.
Prisioneiros não somos do tempo nem do espaço, nem mesmo da terra que pisamos.
No amor fomos gerados.
No amor nascemos.
– Rumi